Verifico que há, por aí, vários "sites", a referir o foral de Vilarinho da Furna de 1218, associando-o com D. Sancho I.
Ora, este rei, nascido em 1154, reinou de 1185 a 1211, ano da sua morte. Portanto, se o foral for de 1218, não poderá ser dado por ele.
Em 1218 reinava, em Portugal, D. Afonso II, que faleceu em 1223.
Segundo refere Domingos M. da Silva "... entre 1216 e 1217, D. Afonso II deu-se ao cuidado de percorrer as terras do norte do reino, com o fim de examinar títulos de propriedade, pouco disposto a considerar justas todas as concessões de seu pai e avós, ficando sòmente válidas as que ele quisesse confirmar - Confirmações gerais" (Domingos M. da Silva, Entre Homem e Cávado - I - Amares e Terras de Bouro, Amares, 1958, p. 35). Nestas circunstâncias, não parece viável que o rei tenha concedido um foral a Vilarinho da Furna.
Mas esse mesmo rei concedeu, sim, em 6/12/1218, um foral a Vilarinho de Castanheira, em Carrazeda de Ansiães, Bragança. Daí, talvez, a confusão.
No entanto, A. Lopes de Oliveira escreve "Vilarinho [da Furna] teve foral em 1218. A aldeia já existia no tempo de D. Sancho II e reza a tradição que a imagem de S. Miguel voltou, festivamente da Portela do Homem, vinda da Galiza para onde fora roubada" (A. Lopes de Oliveira, Terras de Bouro, Câmara Municipal de Terras de Bouro, s/d, pp. 32-33).
Mas parece haver aqui alguma confusão, nomeadamente no que se refere à imagem de S. Miguel, pois, como eu próprio escrevi, baseado em Pinho Leal, "Consta que, havendo uma interdição no Reino de Portugal, pelo ano de 1267, no reinado de D. Afonso III, os moradores de Vilarinho da Furna terão construído uma capela dedicada a S. Miguel, em território galego, para assistir à Missa. Findo o interdito, a Capela terá sido reconstruída no local onde ainda hoje existem algumas das suas ruínas. Mas, ficando num local ermo e distante da povoação, acabou por também ser demolida. A imagem do Arcanjo terá sido, então, levada para a Capela de Nossa Senhora das Mercês, em Vilarinho" (Manuel de Azevedo Antunes, Vilarinho da Furna - Memórias do passado e do futuro, 2.ª Ed., CEPAD/ULHT, Lisboa, Outubro de 2005, p. 142).
Também o foral atribuído por D. Manuel I, em 20/10/1514, a Terras de Bouro, não menciona Vilarinho da Furna, por não ser freguesia.
O único foral que se conhece, de forma segura, de Vilarinho da Furna, é o que consta da "Escritura de emprasamento em fateosim perpetuo que faz a câmara municipal de Terras de Bouro, aos moradores visinhos do lugar de Villarinho da Furna, freguesia de S. João do Campo, deste concelho, com o foro de reis === 2.5040=", de 17/08/1895, por mim publicado na obra citada, pp. 175-182.
Até agora, a referência escrita mais antiga que se conhece, sobre Vilarinho da Furna, penso ser a de 1540, no "Tombo da Igreja de São João do Campo".
Isto, independentemente da sua mais que provável origem romana, dos anos 70 da nossa era.
Manuel Antunes